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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A Partida é muito mais do que um filme comum

Olá, pessoal
O primeiro post do mês será uma dica de filme pra quem gosta de drama, mas um drama bem feito. Assisto poucos filmes japoneses mas esse eu tinha que ver, principalmente depois de vários elogios que fizeram dele. Trata-se de A Partida, do diretor Yojiro Takita (2008), que foi o ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009 e outros 10 prêmios em diversos festivais de cinema pelo mundo.
A narrativa do filme é bem linear e comum, não foge aos padrões e não traz nenhuma inovação na montagem, na estética ou na tecnologia. Mesmo assim o filme prende a atenção, por se tratar de uma história sensível, mesmo sem pirotecnia. A música embala o filme todo, pois se trata da história de um violoncelista que toca na Orquestra em Tóquio, mas por conta da dissolução do grupo, ele é obrigado a voltar para a sua cidade natal no norte do Japão, juntamente com sua esposa. Desempregado, sai em busca de trabalho e consegue logo de cara, porque era o tipo de trabalho visto com muito preconceito por lá, ele se torna um preparador e maquiador de defuntos de uma funenária.
O trabalho de limpeza e preparação do corpo do morto era tradicionalmente feito apenas pelas famílias na Japão, mas como a modernidade e principalmente o ocidente mudaram hábitos milenares, este também mudou, e agora há empresas que fazem isso. Daigo, o protagonista, começa a trabalhar como auxiliar. Ele não conta nada à esposa, pois se trata de um trabalho tido como indigno, e segue no novo ofício e  a cada dia descobre um sentido na vida através dele.
Além disso, há sua história pessoal mal resolvida, pois Daigo foi abandonado pelo pai quando criança e guarda mágoas por toda a vida; e há o relacionamento com amigos da casa de banho que ele frenquentava. O protagonista vai dia a dia aprendendo a lidar consigo mesmo e vendo novas perspectivas em sua vida, aos poucos ele aceita este trabalho como sua profissão.
O filme não nem é um pouco dogmático, e trata o tema morte/vida de forma bem simples e sem ideologias ou culturas, apenas mostra o respeito que os japoneses têm pelos corpos dos entes queridos, e querem que eles estejam perfeitamente limpos, bem vestidos e maquiados para "a partida". O filme é um pouco lento para os dias de imediatismo de hoje e de filmes que mais parecem videoclipes, mas não é pesado e nem arrastado. As cenas se concentram nas emoções dos personagens, mais do que nas ações, e tudo foi feito de forma sensível e leve, sem ser maçante.
Podemos ver através do filme a rica cultura japonesa sendo dissolvida na pobre cultura norte-americana, e nos faz refletir até que ponto deixamos de lado nosso verdadeira cultura e como somos menos sem ela. Trata também do sincretismo religioso, e na hora da partida todos são iguais pois passam pelo mesmo processo: a cremação. Ouvir Ave Maria ao som do violoncelo foi uma surpresa ótima, e poder comparar culturas tão distintas quanto as nossas também.
Há uma outra cena me marcou muito. Ao serem contratados para preparar um corpo, eles se atrasam e quando chegam ao local os familiares já estão aflitos na porta, com olho no relógio. Os dois chegam e se desculpam "Por favor, nos perdoe, tivemos um atraso". O familiar diz. "Já são 5 minutos de atraso, por favor. Andem". E correm desesperados.
Ou seja, lá é como se eles tivessem atrasado 1 hora, eles não toleram atraso nenhum. Igualzinho o Brasil, não?! Rs.
Espero que vejam e se emocionem.
Quem viu e gostou, deixe seu comentário. Beijos



Daigo aprende a importância da higienização e preparação dos corpos dos mortos para a sua cultura e assim sua vida ganha outro sentido

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