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quinta-feira, 15 de maio de 2008

Um pouco de Sylvia Plath

Olá, amigos.
Uma personalidade que me intriga profundamente é a grande poetisa do século XX , Sylvia Plath, seus textos são ótimos, mas sei que foram escritos a base de um sofrimento incomensurável. Sua trajetória por este planeta foi curta, dura e intensa, e mesmo vivendo atormentada, ela pôde nos deixar textos incríveis e se tornar heroína de muitas mulheres na década de 70.
Ela nasceu em 1932, no Estado de Massachusetts, numa família de origem austríaca. Era muito inteligente. O pai morreu quando ela tinha 8 anos. Se casou com o escritor Ted Hughes, que se tornou a razão de seu tormento e a inspiração para suas poesias amarguradas. Ela o amava e ele a traía constantemente.
Em 1953, tentou se matar. Em 1957, seu marido, publicou The Hawk in the Rain, primeira coletânea de poemas que o tornaria célebre. Em 1962, Hughes encontrou outra mulher e abandonou Sylvia. Em junho, numa casa de campo, em Devon, ela escreveu seus mais belos poemas, que compõem a coletânea Ariel, movida por verdadeiro frenesi. Antes do Natal, solitária, desamparada, mudou-se com os filhos para uma casa em Londres. Na manhã de 11 de fevereiro de 1963, depois de preparar o leite das crianças, escreveu um bilhete e abriu o gás da cozinha.
Para saber mais sobre sua vida, assista ao filme Sylvia, de 2003 com Gwyneth Paltrow. É muito bom, dá para se ter uma idéia de como foi sua vida.
Abaixo, um pouco de seu tormento. Abraços, até a próxima.


Os manequins de Munique

A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos.
Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero
Onde os teixos inflam como hidras,
A árvore da vida e a árvore da vida.
Desprendendo suas luas, mês após mês,
sem nenhum objetivo.
O jorro de sangue é o jorro do amor,
O sacrifício absoluto.
Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu
Eu e você.
Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus
sorrisos
Esses manequins se inclinam esta noite
Em Munique, necrotério entre Roma e Paris,
Nus e carecas em seus casacos de pele,
Pirulitos de laranja com hastes de prata
Insuportáveis, sem cérebro.
A neve pinga seus pedaços de escuridão
Ninguém por perto. Nos hotéis
Mãos vão abrir portas e deixar
Sapatos no chão para uma mão de graxa
Onde dedos largos vão entrar amanhã.
Ah, essas domésticas janelas,
As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito,
Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo.
E nos ganchos, os telefones pretos
Cintilando
Cintilando e digerindo
A mudez. A neve não tem voz.
Últimas palavras
Não quero um simples caixão, quero um sarcófago
Com rajas de tigre e um rosto em relevo,
Redondo como a lua, para fitar o alto.
Quero estar de olhos neles quando eles chegarem
Furando a mudez de minerais e raízes.
Estou a vê-los — caras de astros remotos, pálidas.
Agora não são nada, não são sequer bebês.
Eu os concebo sem pai nem mãe como os primeiros deuses.
Certamente indagarão se fui importante.
Como fruta me cristalizo e conservo meus dias!
Meu espelho está se embaçando —Uns poucos alentos e ele nada reflete.
As flores e as faces ficam brancas de pano.
Não creio no espírito. Foge como vapor
Em sonhos, pelo furo da boca e dos olhos. Não o detenho.
Nem voltará um dia. É o contrário das coisas.
Elas duram, o lustrozinho íntimo delas
Ainda morno de tanto manuseio. Titilando quase.
Quando as solas dos meus pés resfriarem,
O olho azul da minha turquesa me confortará.
Deixem comigo minhas caçarolas de cobre, deixem meus potes de ruge
Florirem em volta como flores da noite de bom perfume.
Embrulhar-me-ão com bandagens e deporão meu coração
Aos meus pés em lindo pacote.
Eu não reconhecerei eu mesma. Tudo será turvo,
E o resplendor dessas coisinhas, mais doce que a face de Istar.
Sylvia Plath ( 1932-1963).

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